Mãos a Obra!

24/12/2008

•O LIVRO SAGRADO DA ENGENHARIA.


Engº Manoel Henrique campos Botelho maio 2004

Faz alguns anos,talvez algumas dezenas de anos.Eu fora contratado por uma firma de engenharia para dirigir o projeto de uma potente casa de bombas que retiraria água do mar recalcando-a para atender às necessidades de resfriamento de uma siderúrgica.
Fui contratado para dirigir e não para desenvolver partes técnicas do projeto, para o que havia, ou melhor, deveria haver e na prática não havia uma equipe de projetistas.
Tão logo assumi a direção notei que na firma não havia um profissional que cuidasse da parte do sistema de combate a incêndio para a elevatória.Esse assunto de combate a incêndio eu dominava,sendo engenheiro civil hidráulico, mas o que me deixou preocupado é que as atividades de direção do empreendimento impediam-me de assumir essa tarefa técnica.Tentei contratar um colega,mas o prazo de entrega dos documentos era tão exíguo,que para contratar um engenheiro numa época de muito serviço e poucos profissionais competentes tornava-se impossível.Eu mesmo teria que tocar o serviço e o único auxiliar que pude arrumar foi um estudante do quinto ano de uma escola de engenharia,que apesar de boa formação tinha um defeito original,não era a escola que me formei. Extremamente preconceituoso eu achava que fora da minha escola de engenharia pouca coisa poderia esperar.Quanta bobagem e preconceito...Disseram-me que o jovem engenheirando era muito bom,quase brilhante. Decidi ficar com ele e verificar se os elogios eram ou não merecidos.Para isso eu iria submetê-lo a uma série de situações difíceis ou como diriam os que gostam de sociedades secretas e misteriosas,eu iria iniciá-lo nos segredos herméticos de Minerva,a linda deusa grega que protege a engenharia.
O jovem futuro colega veio para o primeiro dia de trabalho comigo e cumpriu a primeira condição.Ele me trataria com o título de senhor doutor de engenheiro, mesmo não sendo eu doutor,mas era uma forma de mostrar o que ele deveria esperar,ele iria viver a experiência de ser um fiel e obediente discípulo que serviria um mestre.Começou a iniciação quando eu dei a primeira tarefa:
-Para você começar deve me trazer amanhã um exemplar do mais sagrado dos livros da engenharia,só que eu não posso dizer que livro é esse.Seu processo de amadurecimento exigirá que você mesmo descubra e não se incomode com os erros que fará nessa busca do”santo sagraal’’.Assim é a iniciação na engenharia...
O coitado saiu aturdido com a missão e no dia seguinte trouxe-me algo trêmulo,um livro de Análise Matemática e Cálculo Diferencial e Integral do conhecido autor’’Courant’’.Assim respondi:
- Jovem.Esse não é o livro mais sagrado da engenharia,mas seu pecado foi apenas venial,aceitável.Se o seu mestre fosse discípulo do saudoso Prof.oCamargo e se você tivesse trazido o livro do Granville eu o demitiria’’ad nutum’’...Terás direito pois a uma segunda chance.No dia seguinte o coitado trouxe-me um segundo livro e balbuciou:
-Mestre.Eis uma velha edição do livro de “Resistência dos Materiais” do Timoshenko em tradução do respeitado Prof-o Noronha.Se esse não for o livro sagrado da Engenharia que livro poderá ser?
Confesso que ao ver o livro do Mestre Timoshenko,o Engenheiro do Século XX,tremi mas não cedi e continuei o processo de iniciação:
-Esse livro seguramente é um livro sagrado,tão sagrado como o Courant,mas não é o mais sagrado dos livros.o mais sagrado dos livros está junto a cada um de nós e não percebemos.mas chega de iniciação.Eu te apresentarei ao mais sagrado dos livros e principalmente te contarei o que nem nele e em nenhum outro lugar está escrito,ou seja,como fazer sua exegese,como interpretá-lo e tirar dele os melhores ensinamentos.
O jovem profissional estava ansioso e eu logo apresentei o livro,pois com todo esse treinamento uma coisa não estava sendo feita,o projeto do sistema hidráulico de combate a incêndio da elevatória.Assim fui até a mesa do telefone e peguei o livro sagrado da engenharia,a lista de telefones classificada,a amarelinha,e comentei:
-Não há engenharia sem fornecimento de material ou equipamentos.Você deve aprender a usar o livro mais usado da engenharia que é a lista telefônica classificada de fornecedores...
O coitado do engenheirando estava atônito.Nunca tinham dito a ele que uma prosaíca lista telefônica fosse um livro sagrado.Mas prestam atenção a aula que dei a ele de como fazer a exegese do texto sagrado e como tirar dela os melhores frutos. Regras:
1)Baseado na lista amarela faça a listagem dos fornecedores de equipamentos de combate a incêndio;
2)Peça catálogos a todos e depois de receber os catálogos estude-os;
3)Estude em outros livros,normas e artigos técnicos procurando ficar em dia com o estado da arte;
4)Depois de tudo isso e com base no material recebido faça um ranking de todos os fornecedores,começando dos piores aos melhores;
5)Entre em contato inicialmente com aquele fornecedor pior qualificado,chame um vendedor técnico e com ele abra o jogo.Declare a verdade,que você nada sabe de combate a incêndio e que precisa comprar,atenção,use sempre o verbo comprar,um sistema e que para isso você precisa entender como as coisas funcionam.Você ficará surpreso com o que o vendedor técnico lhe ensinará,pois eles são treinados para mostrar e convencer;
6)Chame agora o segundo menos pior fornecedor e faça a mesma coisa,sempre avisando do seu despreparo no assunto.Esse aviso é fundamental para deixar o vendedor bem a vontade e com isso a conversa corre solta;
7)Chame agora o terceiro menos pior fornecedor,converse com o vendedor técnico,verá que sua conversa já será algo diferente,e você pode dizer que entende muito pouco do assunto combate a incêndio.Você notará que já dará para dialogar com o vendedor;
8)Volte agora aos livros,normas e regulamentos,você notará que numa segunda leitura muita coisa antes pouco compreensível ficou clara;
9)No processo de ir chamando progressivamente dos piores para os melhores,você deve guardar as três firmas que melhor lhe impressionaram pelos catálogos para com eles ter a batalha final.Ao chamar um dos vencedores técnicos de uma das três firmas comece a conversa já falando termos do jargão do assunto como classe de incêndio,pressões necessárias etc.,mostrando que de alguma forma você conhece a matéria.Apresente o problema que você tem e peça propostas técnico-comerciais detalhadas.
Aí,com as propostas dos fornecedores na mão,normas e regulamentos oficiais,tudo isso na mão,nós poderemos fazer o projeto e as especificações.
Assim foi feito.O jovem engenheiro fez o previsto e eu acompanhava.Orientado por mim ele fez um esboço do projeto no qual usou os conhecimentos que aprendera na sua escola de engenharia e mais os que aprendera no processo de iniciação,baseado nas informações do livro sagrado.Revi e complementei o trabalho e o enviei ao cliente.
Esta história terminaria aqui e com final feliz mas eu não posso deixar de contar algo que aconteceu no final do trabalho.
Eu estava ensinando o neófito quando este fez uma pergunta que denunciava o bom nível do jovem:
-Mestre,como posso separar o joio do trigo?Se os vendedores são treinados para mostrar com alta eficiência as coisas e nos ensinar a como usar seus equipamentos,todavia eles não são filhos de Minerva,que é pura e ética nas verdades.Os vendedores são filhos do deus Mercúrio,deus dos negócios,e como sabemos da mitologia grega o conceito de Mercúrio é algo assim duvidoso.Mercúrio é meio embrulhão,maroto para dizer o mínimo...Como então saber a verdade diferenciando-a da propaganda interesseira?
Aliás este discípulo amplia a pergunta ao seu mestre:
-Como saber a verdade na engenharia e também na vida?
Pensei em dar uma resposta genérica,pois mestre que é mestre tem sempre que dar respostas,mas procurei ser honesto e humano e confessei que essa não era tarefa fácil,que deveríamos prestar atenção a tudo,conversar com outros colegas trocando experiências etc.,mas confesso que não tive resposta perfeita para responder a tão difícil questão.Humildemente passo a pergunta aos meus fiéis leitores.
Como saber a verdade na engenharia e na vida?
Aceito e publicarei as respostas que receber,mesmo que sejam respostas da parte mais fácil da pergunta:
Como saber a verdade na engenharia?
Ps:.Dedico carinhosamente esta crônica à memória do Engº Max Lothar Hess,que de alguma forma,próximo ao descrito nesta crônica,passou-me informações e verdades que não estão nos livros.Quem,no meu primeiro dia de vida profissional,levou-me a ter tão marcante mestre foi o Profo J.A. Martins,a quem sou profundamente grato pelo fato.
Autor: Eng. Manuel Henrique Campos Botelho

19/12/2008

•A IMPORTÂNCIA DO PROJETO DE IMPERMEABILIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL.

Impermeabilizar é o ato de isolar e proteger os materiais de uma edificação da passagem indesejável de líquidos e vapores, mantendo assim as condições de habitabilidade da construção. É uma técnica que consiste na aplicação de produtos específicos com o objetivo de proteger as diversas áreas de um imóvel contra ação de águas que podem ser de chuva, de lavagem, de banhos ou de outras origens. A falta ou uso inadequado da impermeabilização compromete a durabilidade da edificação, causando prejuízos financeiros e danos à saúde. Água infiltrada nas superfícies e estruturas afeta o concreto, sua ferragem, as alvenarias. O ambiente fica insalubre (umidade, fungos e mofo), diminuindo a vida útil da edificação, sem falar no desgaste físico e emocional do proprietário ou usuário que sofre com a má qualidade de vida causada pelos problemas existentes no imóvel. Como em qualquer atividade humana que envolve canalização de recursos financeiros, temos que analisar a chamada “relação custo/benefício”. Em impermeabilização não é diferente. Se analisarmos o custo de uma boa impermeabilização, veremos que ele varia de 1% a 3% em média do custo total da obra. Se os serviços forem executados apenas depois de serem constatados problemas com infiltrações na edificação já pronta, o custo com a impermeabilização ultrapassa em muito este percentual. Refazer o processo de impermeabilização pode gerar um acréscimo de 10% a 15% em média do valor final.Devido aos altos índices de manifestações patológicas que vêm ocorrendo nas edificações, busca-se cada vez mais, a garantia e o controle da qualidade em todo o processo construtivo.Desta forma, a qualidade final do produto depende da qualidade do processo, da interação entre as fases do processo produtivo e da intensa retro-alimentação de informações, que proporcionam a melhoria contínua. O projetista deve dispor dos projetos de arquitetura e demais projetos complementares que tenham interface com a Impermeabilização.È importante termos um projeto em total conformidade com os aspectos Normativos (ABNT) e de qualidade, a exemplo dos projetos de instalações hidráulica e elétrica, um projeto de construção civil deve contemplar, também, um Projeto de Impermeabilização.
A NBR 9575 – 2003 estabelece o seguinte:
Item 3 - 78 definições
Item 4 - classificação dos tipos (Rígido e Flexível)
Item 4,2 - tipos de substratos
Item 4.3 - os serviços auxiliares e complementares
Item 5.1 - os tipos de impermeabilização contra água de percolação
Item 5.2 - os tipos de impermeabilização contra água de condensação
Item 5.3 - os tipos de impermeabilização contra umidade de solo
Item 5.4 - os tipos de impermeabilização contra fluidos que atuam sob pressão unilateral ou bilateral
Item 6 - Projeto, onde a elaboração e responsabilidade técnica é exigida para o projeto de arquitetura, conforme definido na NBR 13352 – Elaboração de projetos de edificações - Arquitetura - procedimentos , sendo necessário obedecer de forma integral o disposto na NBR 9575-2003

O projetista de impermeabilização deve analisar os projetos básicos da obra procurando evidenciar as áreas que necessitam de impermeabilização, avaliar os tipos de estruturas entre outros aspectos, iniciando o estudo dos sistemas adequados para cada situação;
Projetos e Informações Complementares :
_ Projeto de Arquitetura;
_ Projeto Estrutural;
_ Projeto Inst. Elétricas e Hidráulicas;
_ Existência de pressão negativa;
_ Acomodação do terreno;
_ Variação de temperatura; etc.

Os tipos de Impermeabilização podem ser divididos em:
_ pré-fabricados (manta asfáltica) possuem espessuras definidas e controladas pelo processo industrial.
_ moldado no local que pode ser aplicado à quente (asfaltos em bloco), ou aplicados a frio (emulsões e soluções).
_rígido (argamassas poliméricas) conferem à superfície impermeabilização e proteção mecânica. Interferências no Projeto
Em uma obra comercial, industrial ou residencial, a impermeabilização também deve ter um projeto específico, um projeto que detalhe os produtos e a forma de execução das técnicas de aplicação dos sistemas ideais de impermeabilização para cada caso.
A escolha do sistema indicado depende de cada tipo de estrutura sobre a qual se queira impermeabilizar. Sendo assim, a definição leva em consideração se a estrutura está sujeita ou não a movimentação. Por exemplo: as lajes de grande superfície expostas à luz solar e intenso resfriamento no período noturno apresentam grande movimentação, face aos movimentos de dilatação (dia) e retração (noite). Tais estruturas exigem, para efeito de impermeabilização, produtos com características Flexíveis.
Impermeabilizar não é só aplicar produtos químicos, visa obter 100% de estanqueidade.
Para isso devemos observar as seguintes fases:
_ Projeto de Impermeabilização;
_ Materiais Impermeabilizantes;
_ Mão de obra de aplicação;
_ Qualidade da construção;
_ Fiscalização;
_ Orientação aos usuários
Composição do Projeto
_ Memorial descritivo;
_ Plantas com detalhes específicos ;
_ Especificação e localização dos materiais a serem utilizados;
_ Definição dos serviços a serem realizados;
_ Planilha quantitativa de serviços e materiais aplicados;
_ Estimativa de custos dos serviços descritos.
Um dos fatores de prováveis vazamentos em edificações decorre da ausência de Projeto de Impermeabilização, ocasionando os seguintes problemas:
_ Re-trabalhos de instalações hidráulicas;
_ Enchimentos desnecessários;
_ Mudança no dimensionamento final dos acabamentos;
_ Manutenções e reparos futuros.

Matéria enviada pela Arquiteta Elka Porciúncula.
• Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, 1986) • Atua há 20 anos nos estados do nordeste brasileiro (Pernambuco, Alagoas, Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte) • Desenvolve projetos residenciais, comerciais e industriais atendendo clientes de grande porte como Votorantim, Grupo Bompreço, BCP telecomunicações, Frutivale, FIEPE, Weston, Acumuladores Moura e Real Saúde